domingo, 9 de setembro de 2012


Trecho do livro A hermenêutica do sujeito” Michael Foucault

Ora, se quisermos saber como a alma, posto que sabemos agora que é a alma que deve conhecer-se, a si mesma, tomemos o exemplo do olho. Sob que condições e como um olho pode se ver? Pois bem, quando percebe sua própria imagem que lhe é devolvida por um espelho. Mas o espelho não é a única superfície de reflexo, para um olho que quer olhar-se a si mesmo. Afinal quando o olho de alguém se olha no olho de outro alguém, quando um olho se olha em um outro olho, que lhe é inteiramente semelhante, o que vê ele no olho do outro? Vê-se a si mesmo. Portanto uma identidade de natureza é a condição para que um individuo possa conhecer o que ele é. A identidade de natureza é, se quisermos, a superfície de reflexo onde o individuo pode reconhecer-se, conhecer o que ele é . Em segundo lugar quando o olho percebe-se assim no olho do outro, é no olho em geral que ele se vê ou não seria antes nesse elemen
to particular do olho que é a pupila, elemento no qual e pelo qual se efetua o próprio ato de visão? Dê fato o olho não se vê no olho. O olho se vê no principio da visão. Isto quer dizer que o ato da visão que permite ao olho apreender a si mesmo, só pode efetuar-se em outro ato de visão, aquela que se encontra no olho do outro. Ora o que mostra essa comparação, que é bem conhecida, aplicada à alma? Mostra que a alma só se verá dirigindo seu olhar para um elemento que for da mesma natureza que ela, mas precisamente, olhando o elemento que for da mesma natureza que ela, voltando seu olhar, aplicando-o ao próprio principio que constitui a natureza da alma, isto é o pensamento e o saber. É voltando pra esse elemento assegurado no pensamento e no saber que a alma poderá ver-se. Ora o que é esse elemento? Pois bem é o elemento divino. Portanto é voltando para o divino que a alma poderá apreender a si mesma. (...)
Replica de Sócrates :"Assim como os verdadeiros espelhos, são mais claros, mais puros e mais luminosos que o espelho do olho, assim o deus é mais puro e mais luminoso que a melhor parte de nossa alma" Alcebíades responde: " Parece que sim, Sócrates." E neste momento Sócrates responde: "Portanto, é o deus que devemos olhar; é ele o melhor espelho das próprias coisas humana para quem quiser julgar a qualidade da alma , e é nele que melhor podemos nos ver e nos conhecer." "Sim", diz Alcebíades.

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