terça-feira, 8 de novembro de 2011

Trechos do livro ( Ao encontro das sombras)

                                                                       (.......)
O caminho da alma é sinuoso, descendente e perturbador. A estrada da alma é também o caminho da iniciação à nossa natureza humana. Nosso propósito não é sermos “bons”, ingênuos e inocentes – mas sim sermos reais e conhecermos a nossa escuridão, a via negativa. Iniciação significa conhecer aquilo de que somos capazes, nossos limites, nossas fomes, nossos desejos.
A aquisição desse conhecimento implica, com freqüência, um processo doloroso. Mas somente seremos capazes de responsabilidade e escolha inteligente quando estivermos conscientes desses fatores.



Consideremos a estória do Príncipe e o Dragão. Um casal já idoso, que desejava um filho,consulta uma parteira. Ela os instrui a voltar para casa e, antes de dormir, lançar a água da lavagem dos pratos debaixo da cama . Na manhã seguinte surgiria um ramo com dois botões, um preto e um branco. Eles deveriam colher apenas o botão branco... mas colheram ambos.
Os meses passaram e um dia a parteira é chamada para ajudar o parto dessa mulher.
A primeira coisa que vem ao mundo é um lagarto viscoso; a parteira, com a benção da mãe semiconsciente, atira-o pela janela para que se vire por si mesmo, esquecido e abandonado. Instantes depois, nasce um menino bonito e saudável . ele cresce perfeito, tudo o que ele faz dá certo, e todos o amam, Torna-se tão admirado que é escolhido para casar com a filha do Rei.
Enquanto isso, o Dragão levou uma vida furtiva, espionando seu irmão e seus pais, roubando para comer e se aquecer e ansiando por tudo que não possuía. O Dragão é amargo raivoso e vingativo.
No dia do casamento, o Príncipe parte para o castelo. De repente, sua carruagem é detida pelo enorme Dragão que bloqueia a estrada. O Dragão declara que é o irmão do Príncipe e exige que o Príncipe encontre-lhe uma noiva, caso contrário nunca se casaria com a filha do Rei. Então começa o difícil processo de encontrar uma mulher disposta a viver com um Dragão num ambiente especial. Depois de muitos e muitos anos, ela é encontrada.
O ponto de mutação dessa história é o momento em que o Dragão declara sua identidade, sai da clandestinidade e exige uma noiva que seja capaz de “amá-lo” como ele é. O Dragão não quer mais viver como um criminoso, um paria. Mas ele não propõe mudar sua natureza de Dragão. Pelo contrário, é um prima matéria que se coloca num ambiente especial – um Vas Hermeticus – para ver se ocorre alguma alquimia, para ver se surge a alma. Somente através da revelação de si mesmo e da exigência daquilo que queria é que o Dragão poderia se amado e ocupar um lugar honroso no mundo. E é isso que nos recusamos a fazer, tanto o criminoso quanto nós ( na nossa qualidade de buscarmos bode expiatórios ) nos recusamos a nos revelar a nós mesmos, a sair do nosso esconderijo e reconhecer a “estranha sensação” (o desejo insano) que nos domina. Como disse Gothe, enquanto “Experimentarmos esse processo”, enquanto não nos revelarmos e sairmos do esconderijo, seremos “apenas hóspedes perturbados sobre a terra escura”.
Temos medos de ser pegos, medo se der queimados (pelo óleo), medo do nosso Self Dragão a sair do esconderijo, medo de reivindicar tudo aquilo de que necessita o nosso lado mais feio. Por isso nós, na maioria, fingimos ser totalmente bons. Mas “ ser bom” não basta
Quase todos nós acreditamos em transformação, morte e renascimento; acreditamos na emulsão de Hermes/Mercúrio, mas não queremos nos submeter à morte.
Queremos nos transformar sem sermos transformados – queremos ser remodelados para um “new look” mas sem a agitação nem a descompensação distônica do ego que uma transformação completa acarreta.
A psicologia do desenvolvimento , em especial aquela descrita por Robert Kegan, expõe os estágios através dos quais precisamos evoluir para que nos seja possível amadurecer como seres humanos. De modo geral, permanecemos fixados nos estágios iniciais por que nunca fomos treinados a realizar os sacrifícios necessários apara a série de mortes e renascimentos que compõem o processo alquímico representado pela psicologia do desenvolvimento. O resultado é que nunca aprendemos as lições de cada estágio ou operação.    
(...)

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